terça-feira, 31 de agosto de 2010

The Piano

Eu não sou muito fã de posts tristes não. Mas tive que criar uma história pra esse vídeo:


Dizem que antes de morrermos vemos toda a nossa vida passar diante de nossos olhos, como um filme. Na verdade, não se sabe ao certo que acontece, mas o que aconteceu comigo foi encantador.

No dia 30 de agosto de 2010, eu fiz o que faço todos os dias. Acordei às 6:30, li o jornal inteiro. Às 9 da manhã fui dar minha caminhada na praia, Dr. Jorge sempre fala que é importante a prática de exercícios para pessoas da minha idade. Ao voltar tive uma grande surpresa. Perto do prédio avistei de longe, obviamente sem a ajuda dos óculos isso não seria possível, o sorriso mais radiante do mundo. Era ela, sentada na escada, me esperando. Com o uniforme do colégio, cabelo preso e aquele olhar ansioso pela minha chegada. Ao me ver, gritou: “VOVÔ!” e pulou no meu colo. Poucas situações me deixam com os olhos cheios de lágrimas. Além desta, lembrar da minha falecida esposa, com quem convivi durante 67 anos.

A questão é que ver minha neta era algo raríssimo, ainda mais em pleno dia de semana. Alguma coisa naquele dia estava diferente. Ao acordar eu senti uma sensação de bem estar diferente dos outros dias. Almoçamos juntos, depois a levei em casa. Ela, no auge dos seus 9 anos, me deu um beijo e um abraço muito apertado e falou que me amava. Virou e entrou na portaria. Por algum motivo eu a chamei e quis olhar para seu lindo rosto mais uma vez. Era como se eu soubesse que seria a última vez. E voltei pelo caminho lembrando do seu sorriso e do seu cheiro.

Cheguei em casa já anoitecendo. Fui tomar banho e depois assisti um pouco de TV. É estranho pensar como as coisas mudaram. A variedade de programas que existe hoje, mas a falta de qualidade. Quando meu filho era criança, a televisão se esforçava mais para entreter o telespectador, talvez pela falta de recursos e ausência dessa tal de internet. Desisti de ver aquilo e resolvi, depois de alguns anos sem pensar nisso, olhar um álbum de fotografias.

Ao olhar aquelas fotos desde minha formatura, meu primeiro emprego, meu primeiro carro, meu casamento, meu filho crescendo, meu filho casando, minha neta nascendo, comecei a sentir pela primeira vez na vida algo parecido com orgulho. Um sentimento de “trabalho cumprido”. Eu fiz tudo o que pude, batalhei pra ter sempre comida em casa, fiz o possível para manter minha esposa sempre feliz, dei todo apoio que meu filho sempre precisou e vi minha neta crescer. Era como se naquele momento eu entendesse que estamos no mundo apenas de passagem.

Após ter esses pensamentos fiz um lanche, coloquei meu pijama e resolvi ir dormir. Ao fechar os olhos caí rapidamente no sono e sonhei. Sonhei que estava no meu piano tocando uma antiga canção que minha mulher sempre pedia para eu tocar, e assim ela apareceu do meu lado. Aos poucos fui revivendo cenas importantes de toda a minha vida. Momentos felizes e emocionantes. Nem todos felizes, mas certamente importantes. De repente, as imagens foram desaparecendo, só restando a melodia do piano. Esta foi ficando cada vez mais distante e eu percebi o que estava acontecendo. Percebi que a tarefa tinha sido cumprida e que era minha vez de partir. A música parou.

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